Na grande maioria das vezes, consideramos a esperança como uma emoção positiva que se relaciona com a crença em um futuro melhor e na possibilidade de alcançar objetivos desejados. A esperança é uma força motivacional que impulsiona as pessoas a agir em direção aos seus sonhos e a enfrentar desafios e dificuldades.
Ela é uma emoção poderosa que pode ajudar as pessoas a lidar com situações difíceis e a superar momentos de adversidade. Também pode proporcionar um senso de propósito e significado, além de ser uma fonte de conforto e inspiração.
A esperança não é apenas uma emoção individual, mas também pode ser uma força coletiva que une as pessoas em torno de um objetivo comum. Quando um grupo de pessoas compartilha a esperança de alcançar um futuro melhor, isso pode criar uma sensação de solidariedade e força que pode ajudar a alcançar grandes feitos.
Embora a esperança seja geralmente vista como uma emoção positiva e benéfica, ela pode ter um lado negativo em algumas situações. Aqui estão alguns exemplos:
Falsa esperança: Às vezes, as pessoas podem se apegar a uma esperança irrealista ou inatingível, o que pode levá-las a se decepcionar e desistir quando percebem que suas esperanças não são viáveis. Isso pode levar a sentimentos de desespero, frustração e desânimo.
Complacência: Em alguns casos, a esperança pode levar as pessoas a ficarem complacentes ou passivas em relação aos seus objetivos, em vez de agir ativamente para alcançá-los. Isso pode ocorrer quando as pessoas colocam muita fé na esperança, mas não tomam medidas concretas para atingir seus objetivos.
Desconsideração do presente: Quando as pessoas se concentram muito na esperança de um futuro melhor, elas podem se esquecer de valorizar e aproveitar o presente. Isso pode levar a sentimentos de insatisfação e frustração, e pode fazer com que as pessoas se sintam desconectadas de suas vidas atuais.
Ignorância das possibilidades negativas: A esperança excessiva pode levar as pessoas a ignorar possibilidades negativas e perigosas. Por exemplo, uma pessoa que tem esperança excessiva em um relacionamento pode ignorar sinais de abuso ou negligência, o que pode levar a consequências graves.
Baruch Spinoza, filósofo holandês do Século XVII, tem uma abordagem um pouco diferente em relação à esperança em comparação com a visão comum. Para ele, a esperança é uma emoção passiva e inútil, que surge de uma falta de compreensão do mundo e de nossas emoções. Perceba que Spinoza não entende a esperança como uma virtude, mas como uma paixão.
Segundo Spinoza, a esperança é baseada em desejos que não temos certeza de poder realizar. Ela pode nos levar a ficar presos em nossos próprios desejos, sem ação, apenas esperando que as coisas aconteçam. Em vez disso, Spinoza propõe que devemos buscar uma compreensão mais clara do mundo, de nós mesmos e de nossas emoções, e agir com base nessa compreensão, em vez de esperar que as coisas mudem por conta própria.
De acordo com Spinoza, a chave para uma vida bem-sucedida é viver com sabedoria e buscar a alegria através da compreensão clara do mundo, e não através da esperança em algo incerto. Ele acredita que devemos procurar entender o mundo e a nós mesmos, e assim sermos capazes de agir de forma eficaz para alcançar nossos objetivos e obter a felicidade.
Calma! Isso não quer dizer que precisamos abandonar completamente a esperança e nos tornarmos cínicos. A este respeito, considerando que a esperança costuma estar associada a algum credo religioso, vejamos como Spinoza lida com a ideia de Deus em sua obra.
Para Spinoza, imanência é um conceito central em sua filosofia e refere-se à ideia de que Deus, a natureza e todas as coisas existentes são inseparáveis e estão imanentes dentro do universo.
Segundo Spinoza, Deus é a substância única e infinita que constitui a realidade. Essa substância é caracterizada como sendo imanente, o que significa que ela está presente em todas as coisas e não está separada do mundo físico. Em outras palavras, Deus não é uma entidade transcendente que está além ou acima do mundo, mas sim imanente a ele.
Spinoza argumenta que todas as coisas existentes são modos finitos dessa substância única, ou seja, são expressões particulares da natureza divina. Os modos são as diversas manifestações e formas que a substância assume, e eles são imanentes a ela. Portanto, a imanência está relacionada à ideia de que tudo o que existe é uma expressão ou um modo da substância divina, e não há separação entre o divino e o mundo físico.
Essa concepção de imanência implica que tudo o que acontece no universo está ligado à natureza divina e segue suas leis. Não há espaço para a transcendência ou para a existência de um Deus separado do mundo. Spinoza rejeita a noção de um Deus pessoal e antropomórfico, defendendo uma visão panteísta em que Deus e a natureza são indissociáveis.
Assim, para Spinoza, a imanência é a base de sua filosofia e sustenta sua compreensão do mundo como um todo integrado e regido por leis naturais. Interessante, não é mesmo? Em linhas gerais, isso quer dizer que Deus não está fora da Terra, não tem "planos" para nós cujo teor desconhecemos, mas que está em todas as coisas, na natureza, nas pessoas etc. Da mesma forma, a esperança enquanto força motivadora ou inspiradora, não poderia vir de fora, ou residir num futuro vago, mas pode brotar de nós mesmos e no presente.
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Lucas Delfin é Especialista em Psicologia Social, em Psicologia Humanista com Abordagem Centrada na Pessoa e em Semiótica e Análise do Discurso.