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Foto do escritorLucas Delfin

Psicólogos e psiquiatras: entendendo as diferenças


Imagem artística de uma cabeça humana.

Ainda que a saúde mental esteja mais em voga do que em qualquer outro momento da história, as atuações profissionais de psicólogos e de psiquiatras ainda são motivo de dúvidas e confusão para muitas pessoas.


Isso por vezes se deve à falta de contato com tais profissionais, mas também porque estas profissões são retratadas com alguma frequência em filmes e séries estrangeiros, e, para muitas pessoas, é este o conhecimento que se tem de suas atribuições. Em muitos filmes e séries estadunidenses, é comum ver personagens buscando ajuda para problemas emocionais ou transtornos mentais através de sessões com psicólogos ou psiquiatras. No entanto, a realidade no Brasil é um pouco diferente. Neste artigo, vamos explorar as diferenças entre psicólogos e psiquiatras, incluindo sua formação profissional, a possibilidade de receitar medicamentos, realizar diagnósticos e muito mais. Vamos lá!


Formação profissional

Uma das principais diferenças entre psicólogos e psiquiatras é a formação profissional. Psicólogos obtêm um diploma de graduação em Psicologia e podem seguir uma variedade de especializações através de cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado. Durante sua formação, eles são treinados para compreender e tratar os processos mentais e comportamentais dos indivíduos.


Por outro lado, os psiquiatras são médicos que se especializam em psiquiatria após a faculdade de medicina. Eles obtêm um diploma de médico e, em seguida, passam por uma residência em psiquiatria para se especializarem no diagnóstico, tratamento e prevenção de distúrbios mentais. A formação médica dos psiquiatras lhes permite entender melhor a saúde mental em relação com o funcionamento biomédico e fisiológico do corpo humano, também lhes conferindo a capacidade de prescrever medicamentos.


Possibilidade de receitar medicamentos

Uma das distinções mais significativas entre psicólogos e psiquiatras é a capacidade de prescrever medicamentos. Os psicólogos não têm autoridade legal para prescrever medicamentos, uma vez que sua formação é focada principalmente em terapia e orientação. No entanto, eles podem colaborar com psiquiatras e outros profissionais médicos para garantir que o tratamento seja abrangente e adequado às necessidades do paciente.


Por outro lado, os psiquiatras são médicos licenciados e têm autoridade para prescrever medicamentos psicotrópicos, como antidepressivos, ansiolíticos ou antipsicóticos. Essa capacidade de combinar tratamentos terapêuticos com a prescrição de medicamentos permite que os psiquiatras adotem uma abordagem mais abrangente no tratamento de distúrbios mentais.


Diagnóstico e tratamento

Tanto psicólogos quanto psiquiatras estão envolvidos no diagnóstico e tratamento de distúrbios mentais, mas suas abordagens podem variar. Os psicólogos geralmente utilizam técnicas de avaliação psicológica, entrevistas e observação cuidadosa para diagnosticar problemas emocionais e comportamentais. Eles se concentram em oferecer terapia e aconselhamento, ajudando os pacientes a compreender e superar suas dificuldades.


Os psiquiatras, por sua vez, têm a capacidade de realizar avaliações diagnósticas semelhantes, mas também podem utilizar exames médicos, testes laboratoriais e imagens do cérebro para obter informações adicionais. Essa abordagem mais fisiológica permite que eles considerem fatores biológicos e químicos no diagnóstico e no tratamento dos distúrbios mentais. Além da terapia, eles podem prescrever medicamentos quando necessário, monitorando a eficácia do tratamento e ajustando a medicação conforme necessário.


Em filmes e séries estrangeiros, por vezes podemos nos deparar com psiquiatras que realizam psicoterapia com seus pacientes. Embora isso seja possível no Brasil, é mais comum que os psiquiatras se limitem à prescrição e ao acompanhamento dos tratamentos medicamentosos para lidar com os sintomas de cada quadro, deixando a psicoterapia a cargo de profissionais de Psicologia.


Na maioria dos quadros clínicos, o tratamento medicamentoso sem a realização de psicoterapia em paralelo tende a demonstrar resultados menos expressivos. Ao tratarmos os sintomas sem encararmos a origem do nosso adoecimento, podemos estar suscetíveis ao surgimento de outros sintomas, ou ao reaparecimento destes uma vez concluído o tratamento medicamentoso.


Atestados e afastamentos

Quando se trata da emissão de atestados para afastamento do trabalho ou abono de faltas, é importante observar as competências e atribuições legais de psicólogos e psiquiatras. No Brasil, por exemplo, a legislação define que apenas médicos têm autoridade legal para emitir atestados médicos, que são documentos válidos para justificar faltas no trabalho por razões de saúde.


Os psiquiatras podem emitir atestados médicos, já que sua formação lhes confere essa prerrogativa, permitindo que considerem aspectos físicos e biológicos do paciente ao diagnosticar e tratar condições de saúde mental.


Por outro lado, os psicólogos, apesar de desempenharem um papel crucial no tratamento e suporte emocional, não têm a autoridade legal para emitir atestados médicos. A formação dos psicólogos é voltada para o entendimento dos processos mentais e comportamentais, oferecendo terapia e orientação. No entanto, eles podem colaborar com psiquiatras e médicos para fornecer informações relevantes que ajudem na emissão de atestados médicos.

É importante ressaltar que psicólogos desempenham um papel fundamental no tratamento de questões emocionais e comportamentais, mas quando se trata de questões médicas e afastamento do trabalho, a consulta a um médico, como um psiquiatra, é necessária para a emissão do atestado médico.


Colaboração e trabalho em equipe

Embora haja diferenças claras entre as funções de psicólogos e psiquiatras, é importante destacar que eles frequentemente trabalham em conjunto para fornecer um cuidado integrado e abrangente aos pacientes. A colaboração entre esses profissionais pode ser altamente benéfica, pois combina as abordagens terapêuticas dos psicólogos com o conhecimento médico dos psiquiatras, resultando em um tratamento mais completo.


Conclusão

Embora a atuação de psicólogos e psiquiatras no Brasil seja diferente daquilo que vemos em filmes estadunidenses, ambos desempenham papéis cruciais no cuidado da saúde mental. Os psicólogos utilizam técnicas terapêuticas para auxiliar os pacientes a lidarem com problemas emocionais e comportamentais, enquanto os psiquiatras têm expertise no diagnóstico e tratamento de transtornos mentais mais complexos.


A compreensão das diferenças entre esses profissionais e a importância da interdisciplinaridade entre eles é fundamental para garantir uma abordagem integral e eficaz na saúde mental. No Brasil, o trabalho conjunto de psicólogos e psiquiatras busca oferecer suporte e cuidado adequados às necessidades dos pacientes, visando seu bem-estar emocional e mental.


Também é sempre válido lembrar que saúde mental não se limita a atendimentos com psicólogos e/ou psiquiatras, mas que ela é multifatorial e envolve condições genéticas, familiares, socioeconômicas, relacionais e hábitos de alimentação, exercícios físicos e sono.

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Lucas Delfin é Especialista em Psicologia Social e pós-graduando em Semiótica e Análise do Discurso.

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